terça-feira, 30 de julho de 2024

Cidades da Campanha gaúcha

No sistema de subdivisão que o IBGE usou de 1989 a 2017, o Rio Grande do Sul tinha 7 mesorregiões: Noroeste, Nordeste, Centro Ocidental, Centro Oriental, Metropolitana, Sudoeste e Sudeste. Atualmente o Estado se subdivide em 8 regiões intermediárias: Porto Alegre, Pelotas, Santa Maria, Uruguaiana, Ijuí, Passo Fundo, Caxias do Sul e Santa Cruz/Lajeado.

Verifiquemos a origem dos nomes de cada município da mesorregião Sudoeste (popularmente, Campanha). No francês, formou-se a palavra champagne (planície de campo) para opor-se a montagne (zona montanhosa). No tempo da Antiga Roma, existia a região da Campania, que pode ter originado o italiano campagna e o francês champagne. Da Champagne francesa provém a bebida alcoólica que conhecemos como champanhe.

SUDOESTE SUL-RIO-GRANDENSE
19 municípios

Campanha Ocidental (10)

Alegrete. Toma o nome de seu fundador legal, o quinto Marquês de Alegrete, que iniciou a povoação em 1817. O título de nobreza fora criado pelo rei português em 1687. Em Portugal, Freguesia de Alegrete é uma vila de 1400 hab. do município de Portalegre, região do Alentejo, vizinho à Espanha. 

        Se Alegrete viesse do árabe, teria origem em al-iklil, alecrim, planta que se dá na região ibérica. Se não fosse assim, seria um diminutivo de Portalegre, assim denominada por estar a poucos km da fronteira e numa área verdejante, do latim portus (ponto de passagem) e alacer (aprazível), que deu alecris no latim vulgar. 

Barra do Quaraí forma uma península fluvial no rio Quaraí, de onde toma o nome. Fica no extremo ocidente do estado.

Garruchos. Atribui-se o substantivo masculino a homens que usavam garruchas, lanças com uma faca curva na ponta, para caçar animais (aparecem em duas pinturas de Debret; v. figura abaixo). Outra hipótese é que proviesse das garruchas, armas de fogo usadas por bandeirantes (v. sítio da prefeitura). Se fossem garruchas de fogo, teriam sido usadas por invasores perigosos, e não dariam origem a um ideal positivo do tipo vaqueiro gaúcho, a ponto de batizar uma localidade. Garruchos foi distrito de São Borja até 1992 (v. Wikipédia).

Itaqui. Em guarani, ita, pedra, e ku'í, mole; "pedra de afiar". As margens do rio Uruguai são cheias de pedras boas para afiar instrumentos.

Maçambará. Antigo distrito de Itaqui, trocou seu nome de Recreio para o atual, cujo significado é: "pasto onde acampam os tropeiros".

Manoel Viana. Foi distrito de São Francisco de Assis até 1939, quando passou a chamar-se Vila de Manoel Viana, em homenagem ao intendente (prefeito) de 1908 a 1916, informa a prefeitura.

Quaraí. Batizada após o rio Quaraí. Conforme pesquisa de Nelson França Furtado (Vocábulos indígenas na geografia do RS, p. 147), há duas interpretações para o termo tupi-guarani

    "ou é Guará-hy, rio dos guarás, ou Quara-y, rio das covas ou dos buracos" (segundo T. Sampaio). Parece mais provável, entretanto, que derive de cuaracy (tupi), cuarahy (guarani), "o sol".

São Borja. Primeiro dos Sete Povos das Missões, fundado pelos jesuítas espanhóis no século XVII com o nome do espanhol São Francisco de Borja (1510-1572), homenagem ao terceiro superior geral da ordem dos jesuítas.

São Francisco de Assis. Um dos antigos povoados das missões jesuíticas, com o nome do santo italiano do século XIII.

Uruguaiana. Significa "cidade sobre o rio Uruguai". No livro de Nelson França Furtado, citado acima (p. 181), diz em Uruguai: 

    De uruguá, caracol, + y, água, rio: o rio dos caracóis.
    Jover Peralta, prefere: uru-guá-y, de uru, ave, + guá, procedência, lugar, + y, água, rio: rio da região dos urus.
    Batista Caetano dá Yruguai, rio do canal.

Veja 6 hipóteses para Uruguay na Wikipedia em espanhol.

Campeiro dos pampas, de Debret (1834).
À esq., lanceiro com garrucha.

Campanha Central (4)

Rosário do Sul. A prefeitura informa que a padroeira do lugar foi Nossa Senhora do Rosário, desde o início do século XIX, antes de emancipar-se dos municípios vizinhos. Há outras 3 cidades brasileiras com este nome (MA, PR e MT). Essa devoção mariana nasceu em 1214. na França.

Santa Margarida do Sul. Distrito de São Gabriel desmembrado em 1996, mantendo o nome de Santa Margarida. Acrescentou-se "do Sul" pois existe outra cidade com o mesmo nome em MG. Conta-se que a área do antigo distrito pertencia a uma fazendeira chamada Margarida. 

Sant'Ana do Livramento. A povoação portuguesa começou com a fundação de uma capela dedicada a Santa Ana do Livramento, cerca de 1810, inicialmente ligada a Alegrete.

São Gabriel. O sítio da prefeitura relata que o nome vem de 1800, quando o fundador espanhol do povoado quis homenagear Gabriel de Avilés, que na época governava o vice-reino do Rio da Prata. O governo imperial brasileiro manteve a denominação original. No Brasil há outras 4 cidades com este nome (AM, BA, ES, MS); nestes casos, a referência foi o Arcanjo Gabriel.

Campanha Meridional (5)

Aceguá. No tupi yace-guab pode significar: "lugar de descanso eterno", "terra alta e fria" ou "seios da lua", diz Wikipedia. Nelson França Furtado (p. 16) prefere ler: yaci, lua + cuá, cintura, meio: "vale da lua".

Bagé. No vocabulário de Nelson França Furtado (p. 27) há duas hipóteses, sem comprovação: ou seria corruptela do tupi-guarani pajé, feiticeiro, ou alteração de Ibagé, nome de um índio charrua que teria vivido e morrido na zona. Wikipédia cita as duas possibilidades, e traz uma terceira: Bagé vem de baag, "lugar do qual se retorna", que seriam os cerros da região. Diones Franchi (17-11-2015) escreve sobre o índio Ibagé, e aponta que mbayê ou bayé são os cerros que deram nome a Bagé.

Dom Pedrito. Segundo Wikipédia, em 1800 a zona começou a ser povoada, já como Nossa Senhora do Patrocínio de Dom Pedrito. O espanhol basco Pedro Ansuateguy, de onde veio o nome Don Pedrito, abria caminhos para o contrabando que organizava ao redor de 1770. O município foi antes distrito de Bagé, até 1872.

Hulha Negra. A riqueza da região é o carvão fóssil preto, a hulha, do francês houille. Foi distrito de Bagé até sua emancipação em 1992.

Lavras do Sul. Contam que, no século XVIII, um garimpeiro encontrou, no arroio Camaquã, uma pepita de ouro semelhante à imagem de Santo Antônio de Pádua, motivo pelo qual o lugar ficou com o nome de Santo Antônio das Lavras. "Lavra" refere-se à mineração; assim como lavoura e lavradio, vêm do latim labor, laboris. Emancipou-se em 1882; distingue-se de Lavras (MG).

domingo, 28 de julho de 2024

Rio Grande: no sul, norte e centro


O Rio Grande do Sul ganhou esse nome no século XVII, quando os cartógrafos denominaram a entrada à Lagoa dos Patos como Rio Grande (v. Wikipédia). Essa primeira impressão batizou a futura Vila do Rio Grande e a futura província. Com o tempo, viram que não era um rio, e sim a desembocadura de um volume maior, proveniente da assim chamada serra gaúcha, ao norte da capital. Foi nomeada como lagoa; hoje "laguna" (lago que desemboca no mar). São uns 300 quilômetros desde Porto Alegre até o oceano.

Os patos

Os guaranis patos ou Carijós (étimo tupi, v. Wikipédia) viviam no litoral, desde o sul de São Paulo, nos séculos XVI e XVII, até a Laguna dos Patos (RS); eram tribos pacíficas. Nelson Furtado (p. 50) não explica o termo; somente que o grupo vivia da Cananeia (SP) até a Lagoa dos Patos (RS). O mesmo autor (p. 137) sustenta que "pato" é referência aos animais, não a fator étnico. O Novo Aurélio (1975) distingue os patos como índios que viviam somente às margens da Lagoa dos Patos. O mesmo é registrado no Vocabulário Sul-rio-grandense (Globo, 1964). Sabe-se também que os portugueses batizaram a área da atual Florianópolis, onde viviam os Carijós, como "Ilha dos Patos" (v. relato).

O mais provável é que essa tribo do grupo guarani tenha se identificado como Carijós, e recebesse o apelido secundariamente, por alguma semelhança com as aves, pois não se sabe de outros índios chamados "patos", palavra que não é indígena.

No Brasil há 5 municípios com esse nome: Patos (PB), Patos de Minas (MG), Patos do Piauí (PI), Lagoa dos Patos (MG) e São João dos Patos (MA); nesta última existe uma Lagoa dos Patos (sem saída ao mar). No entanto, todas elas (cidades e lagoa) se referem às aves, não aos indígenas do sul. 

O do norte

Coisa parecida ao "rio grande do sul" havia ocorrido no extremo norte do Brasil, com o rio Potengi, que deu nome à Capitania do Rio Grande (do Ceará à Paraíba). No século XVI, as 14 capitanias foram designadas e abarcavam até Laguna (hoje SC). 

O do sul 

O Rio Grande do Sul, que não foi capitania, começou como província, já no século XVIII. E somente seria considerado parte do Brasil depois de guerras e tratados: a província "cisplatina" (do lado de cá do Rio da Prata) ficou para os castelhanos. Como já existia um Rio Grande no norte da colônia d'além mar, o nosso, que ainda era território disputado com Espanha, ficou como Rio Grande do Sul, e o original (nordestino) ganhou o adjetivo antônimo, para evitar confusões.

O do centro

Até hoje também existe o rio Grande, formador do rio Paraná, junto com o Paranaíba (ambos ao norte do Tietê). O Grande é rio e não denominou cidade nem estado.

Imagem: Wikipédia.

sábado, 27 de julho de 2024

Mochila, o acessório

Sabemos o que é uma mochila, mas de onde saiu esta palavra tão popular e sempre atual? Na Wikipédia, este verbete é muito reduzido; vemos que "mochila" só se usa em português e castelhano, enquanto o basco e o catalão têm palavras muito parecidas: motxila motxilla.

Os dicionários de português dão como origem o espanhol mochila (Novo Aurélio, Antônio Geraldo da Cunha, Priberam, Michaelis). Mas qual o caminho histórico da palavra? Acharemos no espanhol.

  • Para Joan Coromines, etimologista espanhol, o basco mutil, menino (cujo diminutivo, para ele, seria motxil) originou o espanhol mochil, com o significado de "menino de recados", e o termo passou ao acessório que os criados usavam para levar cargas. Por sua vez, o termo basco viria do latim mutilus, mutilado, podado, pois aos jovens lhes raspavam o cabelo. 
  • Essa explicação, da Wikipedia em espanhol, encontra-se no Wikcionário em português. E é completada pelo site A origem da palavra: os escravos romanos é que eram raspados (mutilus) e usavam recipientes de carga.
  • O etimologista argentino Héctor Zimmerman diz que mochila vem do basco motxil, "servo jovem", nome que passou ao saco em que os meninos levavam cargas dos caçadores ("Tres mil historias", Aguilar, 1999, p. 334). Este autor, no mesmo livro, anota que mochila vem de mocho, baixinho, rapazinho; os jovens que trabalhavam no campo usavam muito esses sacos. E daí também saiu o castelhano muchacho (p. 137).
  • O dicionário castelhano da RAE apoia essas histórias. Mochila veio de mochil, menino que ajuda no campo, e este do basco motxil, diminutivo de motil, menino. 
  • No tradutor Google, garoto em basco é mutila, e seu diminutivo mutikotxoa. A palavra para mochila é motxila, a mesma do catalão motxilla. Parece lógico que estas duas provieram do espanhol, e o espanhol, como sabemos, vem do latim. Na origem de tudo, a Roma antiga.


O espanhol mocho originou muchacho e mochila
Possivelmente, também daí veio o basco mutil.

quarta-feira, 24 de julho de 2024

O sotaque da fronteira


A cantora e compositora Lara Rossato é natural de Dom Pedrito, município da Campanha gaúcha (antes denominada pelo IBGE mesorregião Sudoeste). Com muito humor, ela fala frases da zona de fronteira, sem chegar ao portunhol. Veja aqui o vídeo no Instagram (29-1-24). 

portunhol (portu-guês + espa-nhol) é o português com termos castelhanos intercalados, mistura usada em toda a faixa de fronteira, do lado de cá (do lado de lá, é o espanhol com inserções de português). Além do estilo "salada de ingredientes", também há hibridismos, formas espúrias, que não existem em nenhum dos dois idiomas. 

Nesse segundo vídeo sobre sotaque (veja aqui o primeiro), ela não explica essas expressões da fronteira, seja por conhecidos ou por compreensíveis; o que ela quer mostrar é o sotaque (sua pronúncia é gaúcha, mas não é rural; está influída pelos muitos anos que viveu em Pelotas e Porto Alegre). Aqui veremos a etimologia dos regionalismos, de acordo aos dicionários. Confira o que ela diz.

  • Tô bem de bem e tu?
  • Que borrachera tava o guri, ainda chegou em casa e tomou uma tunda de pau.
  • Tá, te acalma tchê!
  • hein, tu viu que deu uma pechada lá no centro?
  • Né, não vou sair nem a pau, tá babando água.
  • Ah ma' vai te deitar, , me 'floxa um pouco.
  • pára de inticar com a guria.
  • oigaletê porquera, bota loqueteio
  • ah não, te larguei pras cobra!
  • [Obrigado!] Merece!

! (Interjeição de espanto). Barbaridade! Mas bá! Mas que barbaridade! (Aurélio, Wikcionário e Michaelis registram "bah", neste sentido). A mesma interjeição existe em português (Priberam) e espanhol (RAE) no sentido de indiferença, desdém (aí o tom de voz fica mais grave e seco). Priberam registra os dois significados como "bah" e como "bá 2", sem relacionar com "barbaridade" (bah poderia equivaler a má, pá, psss...). E por que esse agá final, ninguém explica.

Borrachera (espanhol). Borracheira, bebedeira. Neste sentido de ebriedade, Aurélio (1975), Wikcionário e outros atribuem ao espanhol borracha, recipiente para vinho. 

        No português, a borracha passou também ao sentido de "látex", mas os dicionários não dizem como. A dedução lógica seria que, na extração do látex ou goma vegetal, se usassem sacos de couro (já chamados borrachas). Veja a segunda acepção "por analogia" no Michaelis, e a 5ª acepção no Priberam (recipiente elástico).

Flóxa. Flôxo (Aurélio) é do espanhol flojo, onde o verbo é aflojar, afrouxar. Na fala inculta, "rouba" se diz róba; pousa, pósa. Popularmente, também se troca: baixar/abaixar, chegar/achegar, entrar/adentrar,  perceber/aperceber. Me afrouxa (me 'flóxa), me dá um tempo. Trata-se de um híbrido de idiomas; em espanhol se diria aflójame, solta-me.

Guri, guria. Do tupi kiri, e/ou guarani ngiri, pequeno. Aplicado ao bagre novo e por extensão a crianças. Usa-se no espanhol platino como gurí / gurisa.

Inticar. Enticar (Aurélio), implicar, provocar, importunar, mexer com alguém. Altercar, brigar, discutir. Michaelis atribui ao latim intaedicare, entediar. É muito mais provável que seja uma alteração de "intrigar", por sua vez de intrincar, do latim intricare, emaranhar, enredar. Está nos dicionários de regionalismos gaúchos, mas provém de Portugal, mais usado em Açores (Priberam), de onde vieram imigrantes ao sul do Brasil.

Loqueteio. Do adjetivo "louco" sai louquejar, loucura e louquice; também enlouquecer e enlouquecimento (todos no Aurélio). Em espanhol: loco, loquear, locura, enloquecer (não dicionarizados: loquillo, loqueo, payaseo). Mas o povo cria termos e conceitos: loucurada, louquear, louquejada. Se houvesse "louquete" como diminutivo carinhoso, o substantivo seria louqueteio. Como em pastoreio, devaneio, veraneio. 

        E de onde vem louco/loco ? Encontramos o étimo árabe no dicionário da RAE: lawqa, estúpido. Note-se que em línguas não ibéricas usam-se outros termos (francês folie, italiano folia).

Merece! Dizem que em Pelotas surgiu esta resposta para agradecimentos. Equivale a "não há de quê; não precisa agradecer", mas em formato positivo, amoroso: "o mérito é teu". Kleiton e Kledir a incluíram na canção Pelotas. Também está nesta lista de termos pelotenses.

Oigaletê! Do espanhol óigale, ouça-lhe, escute! A sonoridade transformou a palavra numa interjeição de espanto (como bá), que aparece no Aurélio em suas formas oigalê (óigale aportuguesado) e oigatê ("ouça-te", forma inventada por quem não sabe falar espanhol). Para enfatizar a sonoridade do trissílabo, o gaúcho criou nova forma: oigaletê, ouça-lhe-te! Oigalê, moça linda!

Pechada. Do espanhol pechada, peitada, golpe ou encontrão com o peito (DRAE, 2ª acepção). Está no Aurélio, Vocabulário sul-rio-grandense (Globo, 1964) e Priberam como choque físico, embate (entre pessoas ou entre cavaleiros) e como pedido de dinheiro. Nenhuma fonte anota como o único sentido usado em Pelotas e região: batida de carros em área urbana. A pechada foi feia mas ninguém se feriu.

Porquêra. Porqueira, porcaria. Em espanhol, porquería, ou porquera, lugar de porcos. Em sentido abstrato, o gaúcho entende como: briga, confusão, enredo, degradação (Vocabulário sul-rio-grandense, Globo, 1964). Deu numa grande porqueira (num imenso problema). Não é pouca porqueira (não é algo insignificante).

Tchê. Do espanhol platino che (v. DRAE), interjeição para chamar pessoas (equivale a ei, ouça). Aurélio registra como ché e chê, pronunciado como tchê. Sua possível origem na língua quíchua e mapudungun, onde significa "gente" (v. Wikipedia em espanhol), explica seu uso atual como interjeição ou como um vocativo genérico (cara, homem, cidadão): Tchê, me dá uma informação! Tchê, não sei tê dizer.

Tunda. Do latim tundere, golpear, tundar. Surra, sova. Usa-se mais em espanhol, pois existe o verbo tundir. Tê dou uma tunda dê laço!

Para conhecer algo de Lara Rossato, veja reportagem ZH De Dom Pedrito para o mundo (julho 2016) e Entre humor e música regionalista, de uma semana atrás. 

Lara era o nome de uma náiade, divindade grega das aguas doces, que era muito falante, e na mitologia romana ficou conhecida como Tácita. Rosso é vermelho, em italiano, e se aplica a pessoa ruiva, com o cabelo avermelhado (rossato). O vídeo abaixo é para ratificar que a Lara tem grande expressão oral e corporal, e não é ruiva.

terça-feira, 23 de julho de 2024

Aves e aviões no Museu Carlos Ritter

O Museu de Ciências Naturais Carlos Ritter fica em Pelotas, na praça Coronel Pedro Osório nº 1, a casa geminada com o nº 3, na esquina com a Félix da Cunha. O prédio pertence aos descendentes do senador Joaquim Augusto de Assumpção (1850-1916). 

O canal Urbanista Caminhante completou ontem (21/7/24) dois anos, com 471 vídeos de exploração urbana e rural da nossa região, praticamente 20 por mês.

Sobre as proezas de Joaquim Fonseca (1909-1968), veja o artigo de Lourenço Cazarré O aviador que virou canção, e a nota que escrevi em 2013 sobre a música Jôquim, de Vítor Ramil, escrita em 1987, com uma série de ficções sobre o engenhoso engenheiro pelotense. 

A palavra avião foi criada em 1890, especialmente para o novo invento que estava aparecendo naquele ano. O engenheiro francês Clément Ader (1841-1925), um dos pais do aeroplano, tomou a palavra latina avis (ave) e lhe pôs o sufixo aumentativo. O termo originou "aviação" e "aviador", primeiro no francês e depois em outros idiomas. 

Em 1906, Santos Dumont, que nasceu em 20 de julho, conseguiu voar mais tempo que Ader, e levou a fama. O avião já estava batizado. Voar ainda é com os pássaros (do latim passere, pardal, conforme Priberam). Eles voam para a paz, não para a guerra.

Biguá vem do tupi ibi gwa, pé redondo, palmípede (Novo Aurélio, 1975). Em nossa região é mais conhecido como mergulhão, ave que mergulha nos banhados para fugir de predadores (gentílico informal dos vitorienses).


sábado, 20 de julho de 2024

Palavras angolanas


A colonização portuguesa na África, desde o século XVI, trouxe uma influência linguística mútua: as línguas africanas influíram no português, e algumas palavras do português foram assimiladas pela fala africana. A primeira influência foi imensamente maior, sendo o maior fluxo proveniente de Angola, país que tem seis línguas nacionais (v. Línguas de Angola), e o destino foi especialmente o estado brasileiro da Bahia. 

O sul do Brasil, de clima temperado, foi onde a imigração europeia se concentrou, mas grande quantidade de escravos foi trazida para fazendas da área das charqueadas desta região. Esse povo escravizado provinha do sudoeste africano e falava principalmente o quimbundo, da etnia ambundo, a segunda mais numerosa em Angola. 

    Nas páginas acima encontramos algumas palavras africanas que foram aportuguesadas nos últimos séculos, cuja etimologia vamos checar em mais de uma fonte: Novo Aurélio (1975), Antônio Geraldo da Cunha (2007) e outros online. Elas são ouvidas por todo o Brasil e não são conhecidas no espanhol. Vejamos 10 delas que também se usam no Rio Grande do Sul.

    BAMBA. Do quimbundo mbámba (mestre, exímio). Origem reconhecida pelo Aurélio. Veja variantes mbamba e mbâmba no dicionário de Assis Júnior, parte I, p. 17. Cunha (2007) também anota a variante brasileira "bambambã". No espanhol, bamba tem outra origem e outros sentidos.

    BELELÉU. Citado por Geovany Fernandes ("7 palavras angolanas") como proveniente do quimbundo mbalale (sepultura, campo de sepultamento). Assis Júnior parte I define mbalale como cemitério. Os dicionários de português desconhecem origem de "beleléu".

    BUNDA. Do quimb. mbunda (nádegas, traseiro). Aurélio; Cunha; MichaelisWikipédia. No Brasil ganhou o eufemismo infantil "bumbum". Consta no dicionário kimbundu-português de A. de Assis Júnior parte I.

    CAMUNDONGO. Do quimb. kamundong (rato). Origem confirmada em: Aurélio; Cunha; Wikcionário. Informado por Geovany Fernandes.

    COCHILAR. Do quimb. ku (infinitivo) + koxila (dormita). Aurélio; Michaelis. Cunha e Priberam não informam origem. Está no dicionário de A. de Assis Jr. parte II, p. 196.

    FAROFA. Do quimb. falofa, mistura de farinha com vinagre ou água. Aurélio; MichaelisWikipédia.

    MARIMBA. Do quimb. ma (plural) + rimba (tambor). Aurélio; Cunha; Priberam; Wikipédia. Também está no Dicionário Espanhol RAE. Um teclado pode ser visto como coletivo, e cada tecla como um tambor.

    MARIMBONDO. Do quimb. ma (plural) + rimbondo (vespa). Aurélio; Cunha; Wikipédia; Wikcionário. Um marimbondo é um enxame ou vespeiro, conforme dicionário de Assis Júnior, parte II, p. 278.

    MOLEQUE. Do quimb. muleke (menino). Aurélio; Cunha; Priberam; MichaelisWikcionário. No Brasil ganhou feminino "moleca". Citado por Geovany Fernandes ("10 palavras do kimbundu").

    QUILOMBO. Do quimb. kilombo (povoação; arraial). Aurélio; Cunha; Wikipédia. No Brasil surgiu "quilombola", de possível cruzamento com palavra tupi (segundo Aurélio, assim como Cunha). Quilombo também está no espanhol, com sentidos pejorativos (Dicionário RAE). 

    • Outras palavras do quimbundo que pesquisei seguindo os links acima: 

    Caçula (kasule, último), Cafuné (kifune, estalido das unhas), Canjica (kanjika, guisado de feijão e milho), Fubá (fuba, farinha), Maconha (makaña, tabaco), Mocotó (mukoto, pé de vaca), Mungunzá (mukunza, milho cozido), Quitanda (kitanda, feira), Senzala (sanzala, casa de serviçais), Xingar (kuxinga, injuriar), Zumbi (nzumbi, alma penada, espírito, duende).

    Samba vem de ki-semba (umbigada na dança), segundo Aurélio e muitos etimologistas. Geovany Fernandes o relaciona com o verbo kúsamba (orar), mas seria mais provável a relação com os verbos kusámba (saltitar) ou kurisamba (regozijar-se), consultado o Kimbundu Homepage e o Assis Júnior, parte II, p. 226. Também existe o verbo kusémba (agradar). Outra possibilidade em "samba" é a influência de outras línguas africanas como o quicongo e o chócue (v. Wikipédia). 

    Todas ou alguma delas também influíram no nome da zamba, dança sul-americana surgida na área do Peru e Argentina, no século XIX. Curiosamente, a Wikipédia em português desconhece este verbete mas a espanhola inclui "samba", e por separado "zamba".



    quinta-feira, 18 de julho de 2024

    Biboca, a estação

    O Almanário de Pelotas (Ayrton Centeno, 2022) registra a palavra "biboca" como derivada de uma estação da antiga linha Bagé-Rio Grande, inaugurada em 1884 no município de Herval (confira no sítio Estações Ferroviárias do Brasil), hoje Pedras Altas. Em nossa região, o termo tem o sentido de "cafundó, fim de mundo".

    O Novo Aurélio (1975) define biboca como: escavação ou erosão de terreno; vale profundo e de acesso difícil; habitação muito modesta; casa muito distante, toca, cova, buraco, grota. A origem: do tupi ibi (terra) + boka (gerúndio de bog, fender-se). Este dicionário não diz, mas permite entender a expressão como "buraco abrindo-se na terra". 

    O Vocabulário Sul-rio-grandense (Globo, 1964) dá a mesma origem do tupi, e o significado de "barranqueira". O dicionário etimológico de Antônio Geraldo da Cunha (2007) confirma a origem e acrescenta uma definição encontrada em 1870: "logradouro frequentado por indivíduos de baixa condição". A mesma informação está num vídeo recente da página Linha Campeira. Ver também o dicionário indígena de Nelson França Furtado (1969, p. 30).

    A estação citada no Almanário existiu, até 1968, mas não tem relação com o nosso significado regional de "lugar afastado". A palavra é mais antiga e significa no tupi "grande buraco na terra, cânion", como relata Cássio Gomes Lopes, no vídeo abaixo.

    terça-feira, 16 de julho de 2024

    Pancho, o hot dog

     No sul do Brasil, é conhecido que o cachorro-quente,  criado nos Estados Unidos como hot dog, tem uma versão castelhana, o pancho. Mas de onde veio esse nome para o lanche de salsicha? Nem o povo nem os especialistas explicam. 

    • O dicionário oficial da língua espanhola relaciona o pancho com o choripán, como se tivessem a mesma origem e formação, o que não parece verossímil. Chorizo+pan origina choripán, não sendo necessário outro nome para a mesma coisa. (A versão com salsicha seria salchipán?)
    • O Diccionario Etimológico del Lunfardo, do argentino Oscar Contardo (2004), tem o verbete Pancho, mas não arrisca uma hipótese.
    • A Wikipedia em espanhol tem o verbete hot dog, que traduz como pancho ou perro caliente, sem dizer claramente a origem de "pancho"; somente dá como pista que é feito com frankfurter.
    • Curiosamente, a Wikipédia em português tem o verbete pancho, especifica que se trata do cachorro-quente argentino, mas tampouco busca explicações. Este verbete só existe em português (veja-se o impacto de um termo castelhano no Brasil e a força da cultura uruguaia, que promove os panchos há décadas entre nós).

    1º o embutido de carne

    Quando as salsichas começaram a ser trazidas da Europa, após o Descobrimento, usou-se primeiro a forma francesa (saussiche, atualmente saucisse) e a italiana (salsiccia), que deram no inglês sausage, espanhol salchicha e a nossa salsicha. 

    Todas essas formas vêm do latim tardio farta salsicia (embutidos salgados), conforme achei nos links acima da Wikipédia e do Dicionário da RAE (Real Academia Española). Salsicha, portanto, é plural de salgado: comidas salgadas.

    2º o sanduíche

    A expressão de origem latina, em referência aos embutidos, se consolidou na América toda. Porém, no século XIX surgiram os sanduíches feitos com o tal enchido de carne suína e gordura, e precisavam de um nome comercial, sonoro e visual. Veio a associação (no inglês) com os cães-texugo (dachshund), não comestíveis no ocidente, mas parecidos no formato. 

    O novo sanduíche (hot dog), criado em 1880 ou 1904, conforme cada relato, inspirou-se no cachorro de raça alemã. No Brasil, o cachorro foi apelidado "cão-salsicha", justamente em honra ao hot dog. Nossa cultura importa tudo, mas costuma aplicar a lei do mais fácil.

    3º a tradução

    Como criar um nome local para o produto estrangeiro dar certo também? Pode-se aportuguesar a pronúncia (como se fez com "futebol", de football); pode-se traduzir ao pé da letra (cachorro-quente), neste caso com hífen por tratar-se de conceito novo, diferente de "cão quente". 

    Pancho [pán-tcho] é apelido de Francisco para os hispânicos (na fala infantil, pantchico). Veio rebatizar a salsicha importada, certamente no século XX, que chegava sob a complicada forma alemã Frankfurter Würstchen (salsicha de Frankfurt), impronunciável para os latinos. Foi reduzida para frankfurter e logo Frank, equivalente a Francisco: Chico, para nós. 

    A cidade de Frankfurt chama-se assim porque, sendo parte da antiga Francônia, foi fundada num vau do rio Meno; em alemão, frankfurt significa "passo dos francos". Fica no sudeste da Alemanha, atual Baviera (alemão Bayern, latim Bavaria). 

    Não deixa de ser engraçado que, nos restaurantes gaúchos onde servem panchos, o cliente tem que saber a diferença entre estes, considerados uruguaios, e os cachorros-quentes, nos quais se usa a receita brasileira regional. Em nenhum outro país se encontra o mesmo prato sob duas receitas.



    domingo, 14 de julho de 2024

    Pelota, a embarcação

    O município gaúcho de Pelotas surgiu oficialmente em 1812 como Freguesia de São Francisco de Paula, pertencente à atual Rio Grande, que desde 1751 era a Vila de São Pedro do Rio Grande. Nossa vizinha-mãe foi o primeiro núcleo de colonização portuguesa na Capitania de São Pedro do Rio Grande do Sul, futuro Estado do Rio Grande do Sul. A primeira cidade e primeira capital deu nome à província e ao estado. O tal "rio grande" era a enorme foz da Lagoa dos Patos, que pensaram ser um rio.

    O nome cristão

    A nova freguesia (v. origem do termo) tomou o nome de São Francisco de Paula (1416-1507, italiano de Paola, Calábria), santo de 2 de abril, dia em que as forças portuguesas conseguiram expulsar a ocupação espanhola da Vila de Rio Grande, em 1776 (v. histórico). Devoção e gratidão fizeram que a memória desse Francisco perdurasse, e não só em nossa região, já que o santo é patrono de outras 7 cidades brasileiras (RS, SP, RJ e MG), conforme Wikipédia.

    Desde 1812, aquele distrito rural, ainda dependente de Rio Grande, urbanizou-se e cresceu rapidamente, emancipando-se, em 1832, como Vila de São Francisco de Paula (v. Wikipédia). Foram vinte anos de impressionante progresso na futura cidade, assim como no país, que, nesse curto período, evoluiu de colônia portuguesa (então visitada por toda a corte real) até Império do Brasil (agora independente da pátria-mãe).

    Em 1835, o governo da província imperial elevou as duas vilas à condição de Cidade, pela lei provincial nº 5, de 27 de junho daquele ano: Rio Grande a mais antiga, e Pelotas a vila desmembrada da anterior.

    O nome pagão

    O nome de Pelotas foi tomado do costume que já existia em 1812 de se referir a esta área como a vizinhança do "rio das pelotas". Na época, a expressão não parecia adequada para um nome eclesiástico: paróquia de Pelotas (Igreja e Estado, ainda unidos, denominavam a paróquia e a freguesia, cada um em seu âmbito). Pelota é diminutivo depreciativo de bola (do latim bulla, esfera).

    O curso d'água hoje conhecido como Arroio Pelotas tem 60 km desde seus dois afluentes na Serra dos Tapes até desaguar no Canal São Gonçalo. Ficou como "arroio" apesar de ter características de rio (v. Wikipédia). O fato de não desembocar no oceano não seria bastante motivo para essa redução. Pode ter predominado a existência do Rio Pelotas na divisa entre os estados do sul (RS/SC). 

    Conforme Bueno, Barreto e Dias (USP, 2021), foi nesse Rio Pelotas, mais tormentoso que o nosso, que Debret observou e pintou, no início do século XIX, o uso de barquinhos de couro puxados por um nadador (a legenda em francês: barque bresilienne faite avec un cuir de boeuf). 

    Temos como certo que as pequenas embarcações, batizadas pelos portugueses (não pelos indígenas, que podem tê-las inventado mas não com esse nome), denominaram a região, logo esta palavra batizou o município e posteriormente tudo o que há nela: Porto de Pelotas, Shopping Pelotas, duas universidades, clube esportivo (de futebol, o esporte das pelotas). 

    A polêmica parece estar na etimologia, que separa dois tipos de significados (possivelmente também origens diversas): 

    • a pelota esfera (dicionarizada como 1) e 
    • a pelota embarcação (dicionarizada como 2), onde os pesquisadores divergem: ou se relaciona com "péla" (forma esférica) ou com pele (material de couro). 

    Conforme Antônio Geraldo de Macedo (2007), pelota vem do latim pila e seu diminutivo pilella, que deu no português "péla" (bola de brinquedo) e no espanhol pelota (com sufixo -ota). 

    No entanto, o significado de pelota como embarcação é considerado regionalismo (RS e MT). Visitantes de outros países ou do norte do Brasil ficam estranhados e perguntam aos guias turísticos se o futebol é tão importante em Pelotas que chegasse a batizar a cidade.

    Note-se que o dicionário oficial espanhol distingue: 

    • pelota 1 (esfera), relacionada com o latim pila, onde é listada nossa famosa embarcação americana: batea de piel de vaca que usaban en América para pasar los ríos personas y cargas;
    • pelota 2 (estar em pêlo), relacionada com pelote, roupagem menor, que deixa a pessoa seminua, quase "em pêlo". O linguajar hispânico deve ter ligado esta antiga camisola com a sonoridade pejorativa de "pelota" (e a nudez total associada).

    Algumas definições de Pelota em português:

    • Embarcação ligeira, tosca e pequena, feita de um couro de boi inteiriço, utilizada para transportar passageiros de uma à outra margem de um rio (Novo Aurélio, 1975).
    • Grande cesto feito com o couro de boi, servindo de bote para a travessia dos rios (Cândido de Oliveira, 1967).
    • Couro de boi recobrindo um trançado de varas que serve de meio de transporte de pessoas e cargas de uma margem à outra de um rio (Michaelis).

    A ideia mais difundida é que a embarcação foi batizada "pelota", provavelmente no Brasil, em função de sua forma arredondada, de péla; esta possibilidade é defendida pelo etimologista gaúcho José Romaguera Corrêa (Vocabulário Sul-rio-grandense, 1898). Considere-se que, entre as muitas acepções ligadas a pelota 1, está a de "fardo, pacote, trouxa"; a pelota era levada como um fardo. Mas também pode lembrar-se a relação, em português, com pêlo, do latim pilu (Novo Aurélio, 1975), do qual podia ser feita a pelota (Macedo, 2007).

    A hipótese da pele de boi como material da pelota está no Michaelis, foi proposta pelo antigo pesquisador Henrique de Beaurepair-Rohan (1889), que nem era gaúcho nem viveu muito tempo na região, e hoje não é lembrada. 

    Em 7 de julho de 2012, uma travessia de pelota foi encenada de uma beira a outra do Arroio Pelotas (v. nota). Abaixo uma parte filmada.


    sexta-feira, 12 de julho de 2024

    Lobo da Costa, dia 12, ano 12

    Cada 12 de julho se lembra o natalício de Francisco Lobo da Costa, destacado escritor do século XIX (1853-1888). Batizado Francisco como seu tio paterno, é Lobo por parte de mãe e Costa como o pai. Seu prenome era comum na ex-freguesia de São Francisco de Paula (batizou-o o padre coadjutor Francisco Pinto, na adolescência trabalhou no cartório de Francisco das Neves), todos eles provenientes do santo de Assis (1182-1226).

    Nasce em família humilde numa Pelotas opulenta, imperial, charqueadora, escravagista, ferida pela Revolução Farroupilha (1835-1845) e agitada pela Guerra do Paraguai (1864-1870). 

    Aos 12 anos publica seu primeiro texto, momento em que desperta para a poesia (v. Wikipedia), um despertar de vida eterna, pois nunca mais deixa o caminho da expressão da alma. 

    O poeta ganhou tardias homenagens em sua cidade natal. Em 1934, a rua São Paulo (que desde sua criação em 1830 tivera denominações diversas) foi renomeada Lobo da Costa, somente no setor ao leste da praça Coronel Pedro Osório. Trinta anos depois, o trecho oeste, antes conhecido como rua Dr. Urbano Garcia (Os Passeios da Cidade Antiga, Mário Osório Magalhães, 2000), foi renomeado como Lobo da Costa. 

    O centenário de nascimento suscitou destaques em 1953, e posteriormente o sesquicentenário em 2003. Já existia o Instituto Lobo da Costa e na Academia Pelotense de Letras a cadeira de Lobo da Costa. No século XXI, a Prefeitura batizou escola infantil com o nome do escritor, no bairro Pestano, rua Catorze, nº 196. Em 2013, a Câmara instituiu 12 de julho como o Dia do Poeta Pelotense.

    Fora de Pelotas, há ruas com seu nome em Porto Alegre, Santa Maria, Passo Fundo, São Leopoldo, Esteio, Presidente Lucena, Viamão, Guaporé, Gravataí. Fora do Rio Grande do Sul, Campos dos Goytacazes (RJ) tem uma rua Francisco Lobo da Costa (supomos seja o poeta gaúcho).

    Em seu aniversário 160, postei o artigo Francisco, poeta de 34 anos. Confira o artigo de Elvo Clemente Lobo da Costa e a Revolução Farroupilha (1985). Confira vídeos sobre Lobo da Costa no YouTube.

    Bagual, o xucro

    Bagual está nos dicionários de português e de espanhol, como regionalismo platino. Nesta nota vemos três possibilidades etimológicas: corru...